Licença para ser mãe

Já aqui contei a experiência laboral da minha primeira gravidez. Não correu bem, não foi maravilhosa. Na verdade, e em resumo, a minha chefe à data mandou-me esconder o máximo de tempo possível e embora sinta que não tenha ficado com nenhum trauma profundo desse tempo, é uma coisa que não esqueci. O peso na consciência que me fizeram sentir por ter engravidado, fez com que me tivesse disponibilizado para trabalhar ao fim de três meses e que não tenha se quer equacionado a possibilidade de alargar a licença.

Com esta segunda gravidez decidi desde o primeiro dia que ninguém no mundo me faria sentir culpada por ter engravidado. Contei ao meu chefe e a toda a gente sem medo e sem culpa. Ninguém tem o direito de nos fazer acreditar que não deve ser assim. Continuei e espero continuar a trabalhar até muito próximo do parto (da C. foi até ás 23:00 h. da véspera – em minha defesa, eu não sabia que ela ia nascer naquele dia) mas tenho planos diferentes para a licença.

Digo isto em voz alta para me mentalizar: vou fazer nove meses de licença de maternidade.
(pronto, já disse!).

Vamos por partes.

Primeiro:
Em rigor cientifico, não são nove meses de licença; são oito. Na prática, em correndo conforme o planeado, estarei fora nove meses, porque entre o fim do quinto e o início do sétimo mês, terei um período de férias (sexto mês, que coincide com a licença do pai). Quer isto dizer, contas redondas e – reforço – em correndo como o planeado, que entre Janeiro e Outubro do próximo ano vou estar dedicada à coisa que considero mais importante do mundo: um filho (filha, neste caso).

Segundo:
Se tenho isto totalmente decidido na minha cabeça? Não tenho mas quero muito.

Ando a repeti-lo vezes sem conta numa tentativa de auto convencimento mas reconheço todos os contras, em especial um: Nove meses afastada de uma empresa são nove meses afastada de uma empresa e só faz falta quem está - ou outras pérolas de conhecimento.

Reconheço que dar a notícia a um chefe (coisa que ainda não fiz) de que estarei fora nove meses não será fácil de digerir e nem vale a pena tentar convencer-me de que ele terá de resolver esse problema porque eu percebo a fragilidade do meu argumento. Tem impacto. Faz diferença.

Claro que quem tem gravidez de risco e vai para casa aos dois ou três meses, acaba por estar afastada tanto ou mais tempo e ninguém “pensa menos” dessas pessoas. A grande diferença está no entanto na opção de escolha: eu posso escolher tirar três, cinco ou nove meses e se eu escolher nove (eu vou escolher nove!), sou eu que deliberadamente me quero afastar esse tempo todo.

Não conheço casos de pessoas próximas que, em instituições privadas, tenham feito licenças prolongadas. Apenas uma ou outra pessoa a quem ouvi comentar mas sem conhecer o processo. Portanto sinto-me totalmente nova nisto, sem grande apoio na verdade, sem exemplos a quem recorrer para defender o meu argumento (o outro lado diz: mas qual argumento? Não tens de defender nada! És mãe, queres fazer nove meses, fazes, end of story)

Isto posto, dá para perceber a dicotomia, certo?
Mãe que quer muito estar nove meses a lamber a cria versus profissional que reconhece as implicações de estar nove meses longe do trabalho.


Quero muito estar em paz com esta decisão porque a minha prioridade é a minha família mas no fundo sinto que ainda correrá alguma água debaixo desta ponte. 

1 Coisas dos outros

  1. Acho essa dicotomia perfeitamente normal.
    Estive fora do trabalho 8 meses. Por força das circunstâncias, não por opção. Por ter tido 4 meses de baixa para acompanhamento de filha internada, acabei por tirar apenas 4 meses de licença e não os 5 que sempre pensei tirar. Achava que já estava há demasiado tempo fora. Nem sequer engatei férias... e tinha bastantes.
    Percebo, por isso, o que sentes, esse decisão difícil que estás a (tentar) tomar.
    Mas com o que sei agora, teria tirado os 5 meses e ainda teria metido uns dias de férias. A bem dizer, ninguém nos agradece e reconhece o esforço de deixarmos a família para trás.
    Por isso digo: Vai em frente! Não hesites. Tira os 9 meses! :)

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