Finalmente, a escola

Post escrito em 11-10-2017

O processo de escolha da escola da nossa filha não foi difícil. Não porque não fosse importante (era extremamente importante!), mas porque adoramos a que acabamos por escolher. Visitamos quatro, falamos com amigos sobre várias e escolhemos a primeira.

A escola da minha filha fica a 200 metros de nossa casa, no mesmo passeio. Vamos e vimos a pé. É prático, cómodo, fácil – embora este não tenha sido o argumento principal a pesar na decisão.

A escola da minha filha fica numa casa linda, com jardim, relva, árvores, brinquedos de exterior. A sala dela fica virada para o jardim com uma parede toda em vidro e uma porta também em vidro com um degrau pequenino de acesso.

Na sala dela há diversos espaços, de leitura, de brincadeira, de “trabalho”. Há desenhos feitos pelos meninos e paredes decoradas com fotografias deles.

Na escola da minha filha há música clássica sempre a tocar baixinho.

Na escola da minha filha todas as pessoas que lá trabalham são imensamente simpáticas, queridas, disponíveis. Tratam-nos por “papás” e nós tratamo-las pelo nome. Tratam todas as crianças pelo nome, independentemente da sala e conhecem-nas.

A escola da minha filha é familiar e pequenina. Tem um ambiente de casa, calmo, tranquilo. Há sol e tranquilidade. O ambiente é de paz.

Na escola da minha filha falam em inglês e em português (e ela já conta até “ten”). Têm um dia do conto, um dia da música, um dia da ginástica, um das experiências. Há variedade nas actividades e muito tempo livre de brincadeira.

Na escola da minha filha há comidas saudáveis e bolinho de iogurte se alguém faz anos.

Na escola da minha filha há a educadora dela, que é um amor. Que a trata com carinho e a recebe ao colo. Que durante o dia nos manda às vezes um e-mail com uma fotografia a dizer que a C. está bem.


Nós sabemos no entanto que a C. não está bem.

A minha filha acorda de manhã e a primeira coisa que pergunta é se vai para a escola. Se a resposta for sim, começa a chorar. Às vezes ainda não sabe a resposta e já chora.

A minha filha está em casa entre trinta minutos a uma hora antes de sair, entre vestir, tomar o pequeno-almoço e arranjar e chora o tempo todo. Pode distrair-se às vezes por meio minuto, com os nossos esforços sobre-humanos de mudar o foco, mas volta ao mesmo.

A minha filha fala na perfeição e diz, cinquenta, cem, duzentas vezes que não quer ir para a escola.

A minha filha chora em casa, chora no caminho, chora à porta, chora quando entra, chora na sala e fica a chorar.

(Eu também choro. Choro quando fecho a porta da escola e no caminho e até ao trabalho).

A minha filha chora em escala e quanto mais perto da escola está mais chora.

A minha filha chora à segunda-feira, mas a todos os outros dias da semana também.

A minha filha foge-nos em casa e esconde-se atrás dos móveis enquanto chora e diz que não quer ir.

A minha filha recusa-se a entrar na escola e tenta fugir.

A minha filha tem de ser levada ao colo para que entre e é em choro que passa para o colo da professora.


Passou um mês e meio (com uma semana de interrupção por motivo de doença) e continua tudo exactamente igual ao dia em que se apercebeu que a escola era para todos os dias.

Levamos a C. à escola todos os dias e todos os dias eu me sinto um bocadinho pior.

Todos os dias me sinto má mãe.

Todos os dias sinto que estou a fazer mal à minha filha.

Todos os dias desejo com todas as minhas forças que seja sábado.

Todos os dias me faço de forte à frente dela para rebentar em lágrimas mal a deixo.

Todos os dias da minha vida me irei lembrar dos olhos dela quando está a chorar desesperada no colo da professora e eu viro costas e fecho a porta

(porque alegadamente os pais não devem prolongar o processo de os deixar, que só piora o sofrimento)

Todos os dias me sinto culpada.

Todos os dias sou uma péssima mãe.

Todos os dias passo o dia em angústia à espera do momento em que posso sair para a ir buscar (e Deus sabe que o tenho feito sempre uma hora antes do que devia).

Todos os dias são difíceis.

Todos os dias desejo que seja diferente.


E sim, há problemas muito mais graves e fossem estes todos os males do mundo porque isto se irá resolver (plano B ou solução natural) mas dói e custa e eu não estou a saber lidar com isto. Não a conseguir ajudar corroí-me todos os dias um bocadinho e sinto que estamos a chegar a um ponto em que outras soluções terão de ser adoptadas.

E não me digam que as crianças têm de aprender, que sofrer faz parte, que a vida não é fácil porque ela tem três anos e a vida toda para aprender.

Não me digam que estes níveis de ansiedade e stress podem contribuir positivamente para o desenvolvimento de uma criança porque eu acredito exactamente no oposto.

Não me digam que a escola faz bem porque claramente neste momento está a fazer-lhe mal.

Vou esperar até ao limite do que definimos como razoável. E se nada melhorar (e nós estamos a tentar tudo) então só haverá uma coisa a fazer

1 Coisas dos outros

  1. Entendo-te perfeitamente. Tenho tido a sorte de os dias em que a minha fica realmente a chorar serem pontuais. tenho a sorte de ela, em casa, apesar de dizer que não quer ir para a escola, não chorar. Nem chorar pelo caminho.
    Tenho a sorte de ela se ter adaptado melhor do que eu imaginava, apesar de haver ainda algumas manhãs complicadas.
    Mas se estivesse há um mês e meio como tu estás, também já estaria a ponderar outras alternativas (nem sei bem quais, mas certamente arranjaria alguma coisa), porque não me parece nada saudável essa tristeza, essa ansiedade todos os dias!
    E deve doer mesmo muito passar por isso todos os dias...

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